domingo, 20 de abril de 2014

Amo-te

Fazes falta. Muita falta. Felizmente já sonhei contigo, e por isso fiquei consolada - lá estavas tu de robe castanho e chinelos escuros a passear pelo corredor com uma chávena de chá na mão. Era noite, noite alta, e eu queria ir não sei onde. Disseste de imediato que me levavas e, quando me olhaste nos olhos, eu consegui vê-los reluzir, a luz do candeeiro que estava ao pé de ti iluminou de tal forma o teu olhar que o verde cintilante parecia quase beijar-me a alma. Eu juro por tudo que estavas ali -, mas foi só um sonho.
Hoje custou-me passar a Páscoa sem ti, todos os almoços são um vazio imenso, falta ali um lugar, falta ali uma pessoa, falta um pedaço desta família que continua a juntar-se sem esquecer os teus apelos para que continuássemos sempre juntos, mesmo quando tu já não nos pudesses juntar. Já passaram quase 2 meses e eu ainda tenho esperança de te voltar a ver, de te reencontrar, não sei como, não sei onde, mas há uma sensação em mim que me faz ter esperança de te ver mesmo ao virar da esquina. Lembro-me tão bem de ti, dos teus gestos, dos teus passos, da tua roupa, da tua expressão. Lembro-me das tuas mãos, dos teus olhos, do teu nariz, do teu sorriso. Lembro-me do teu jeito comigo, das tuas palavras curtas, do teu olhar simbólico. Não sei se alguma vez soubeste o quanto eu gosto de ti e o quanto vou sempre gostar. Desapareceste cedo demais, desapareceste sem sequer nos dar tempo suficiente para nos despedirmos de ti. Mas acredita veemente que estás sempre aqui connosco, em cada passeio, em cada conversa. És, desculpa, eras uma pessoa maravilhosa e infelizes daqueles que não te puderam conhecer. Eu tive a felicidade imensa de te poder chamar avô durante 20 anos da minha vida. Eu sei que era a tua menina, por muito que às vezes embirrasses com a minha forma rebelde de falar. Fazes-me muita falta, queria muito ter-te aqui. Se a Páscoa foi assim, imagino o Natal... Enfim, todos nos lembramos de ti, espero que estejas a olhar para nós.
Um beijinho desta que te ama.
A tua neta.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Saudade infinita de ti

É isso mesmo que diz o título - saudade infinita de ti. Todos os dias custam, uns mais outros menos, é certo, mas há dias em que a saudade não cabe mesmo no coração. Até hoje ainda estava naquela fase de "dormência" como quem não está a acreditar bem no que aconteceu, que acredita que não pode ser verdade. Hoje, de facto, caí em mim e comecei a chorar desesperadamente. Há uma sensação de perda tão grande, uma saudade tão forte de voltar a ver-te olhar para mim... Queria muito poder dizer-te coisas que não disse, coisas que acho que nunca soubeste. No fundo, só queria poder voltar a estar contigo, nem que fossem 5 minutos, e dizer aquilo que nunca disse. Gostava mais daquela fase de "dormência" em que conseguia rir e brincar sem acreditar que tinhas ido embora. Todavia, conforme o tempo passa, apercebo-me que não voltarás mais, e o vazio de entrar em tua casa e não te ver, de me sentar à mesa e não estares lá, de ter algo para contar e não poderes ouvir assola-me o espírito e a alma. Todos aqueles sonhos que tinha em miúda, que um dia me virias casar, que um dia terias um bisneto, que um dia ficarias orgulhoso porque tinhas uma neta licenciada desmoronaram-me com a notícia "Joana, o avô faleceu". Tu eras muito importante na vida de muita gente, mas na minha tinhas um lugar muito especial. A verdade é que nunca imaginei o dia em que te fosse perder, e mesmo quando dizias "quando o avô morrer, vais lembrar-te de mim" eu cogitava, para mim, que eras eterno e nunca teria de te ver partir. A tua casa está vazia sem ti, o teu lugar à mesa está desocupado, os teus ideais e convicções que defendias tão fervorosamente acabaram por estagnar e por nós fica uma saudade imensa por não te poder voltar a ter. Queria tanto voltar a ter-te, queria tanto que alguém me acordasse e dissesse que era só um pesadelo e que ia passar. É utópico, é certo, mas era tão bom... Enfim - digo suspirando - olha por mim porque eu por aqui sinto-me sozinha...

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Meu querido avô,

estou aqui no blog a realizar um dos teus últimos desejos. Não vou começar a escrever acerca da dor que foi, e está a ser, a tua perda porque, na verdade, ela é incomensurável e inesgotável. Por isso, limitar-me-ei a escrever o que me pediste nos últimos dias de vida, por entre palavras espaçadas e sem força.
Ainda no hospital me disseste "tens de escrever na internet o que se passa neste hospital". Mas, por não quereres falar durante a tua estadia no mesmo, pouco soubemos sobre o que efectivamente se passou e que tanto te transtornou. E, a meu leigo ver, foi exactamente o que aconteceu nesse hospital que te tirou a força e o ânimo de viver, após mais de um ano de luta e de pequenas vitórias. Era notória a tua ansiedade quando tinhas de ficar sozinho no hospital, hora que as visitas acabavam, por volta das 20h. Naquele serviço de Pneumologia Oncológica do Hospital Pulido Valente, eu via o teu desespero quando a noite se aproximava e sabias que ficarias sozinho. Dizias, entre dentes para que ninguém ouvisse, que pedias água e demoravam uma hora a dar-ta, e que querias ir à casa de banho e esperavas outra hora. Chegaste mesmo a referir que o que ali faziam era um "atentado à dignidade das pessoas" Tu, vulnerável e incapaz, completamente dependente dos que te circundavam vias-te confinado a meros "favores" de má cara. Querias que circulasse que foste mal tratado, que te sentias mal e pedias encarecidamente para que te tirássemos daquele lugar porque te estava a consumir aos bocadinhos. Ficaste de me dar pormenores do que querias que escrevesse, mas a verdade é que estavas fraco demais para isso e acabaste por nos deixar antes que pudesses meticulosamente contar o que te atormentava. Como o pedido me foi feito a mim, e visto que querias que colocasse isto na internet, como tu dizias, aqui estou eu a dar-te paz de espírito. Penso que o que querias passar era a mensagem de que os doentes têm de se fazer ouvir e que tu, naquela situação de dependência absoluta, te sujeitavas aos maus tratos com receio de represálias se mostrasses desagrado e descontentamento. Se passaram pelo mesmo, queixem-se, digam, falem, não fiquem calados. Porque um doente que não se sente bem no local onde supostamente deve ser tratado é o suficiente para lhe tirar a força de viver. Foi o que te aconteceu, meu herói, deixaste de conseguir lutar e nós, hoje, choramos a tua morte e recordamos o teu nome. Olha por nós, fica connosco e dá-nos força para prosseguir o nosso caminho na tua ausência.


Joaquim Moura Madeira 08-12-1937 - 25-02-2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Já tinha saudades

Já tinha saudades. Saudades de poder simplesmente escrever sem sequer pensar. Hoje estou nervosa. Estou mesmo muito nervosa. Porquê? Não interessa porquê. Tinha saudades disto. Estou a sorrir sem saber bem porquê. É como se por um ténue momento fosse tudo como era antes. Parece que sou uma miúda outra vez. Sim, uma miúda outra vez. Antes daquela altura em que as lágrimas copiosas me caíram pelo rosto. Antes de me deitar e não conseguir dormir. Sim, sim, antes mesmo de passar dias e dias inteiros em casa com o sol a brilhar lá fora, simplesmente porque não conseguia encarar a realidade. E pergunto-me a mim mesma por que sorrio. Porque tinha saudades disto... É isso. Eu ainda me lembro das palavras que me edulcoravam o coração. Desse amor fátuo que toldava a minha vista da realidade. É como se esteja a viver tudo agora. E é engraçado como as memórias parecem presente. E como o passado se materializa com breves sussurros de saudade. E a minha inocência - só hoje consigo ver que era, de facto, inocente - acabava por fazer de mim quem era. Talvez, e tão somente talvez, se não fosse essa inocência não teria vivido tão exasperadamente aqueles mistos de amor leviano com paixão salutante, aquela angústia permanente que julgava ser, sem espaço para dúvidas, amor... É o que disse acima - inocência. Nessa altura ainda não tinha percebido o que era amar, ainda era só uma rapariga a dar as primeiras passadas no universo das paixões ardentes e dos desgostos avassaladores. Talvez seja mesmo nessa altura que a pureza dos nossos corações nos permite viver tudo com a máxima intensidade. Mas a verdade é que venho corroborando que quanto mais pomos de lado a essência do nosso ser, o prelúdio da nossa ingenuidade e a irreverência inerente à idade é que de facto podemos perceber, passados todos estes anos, o que é o amor - e eu amo-te.