Já tinha saudades. Saudades de poder simplesmente escrever sem sequer pensar. Hoje estou nervosa. Estou mesmo muito nervosa. Porquê? Não interessa porquê. Tinha saudades disto. Estou a sorrir sem saber bem porquê. É como se por um ténue momento fosse tudo como era antes. Parece que sou uma miúda outra vez. Sim, uma miúda outra vez. Antes daquela altura em que as lágrimas copiosas me caíram pelo rosto. Antes de me deitar e não conseguir dormir. Sim, sim, antes mesmo de passar dias e dias inteiros em casa com o sol a brilhar lá fora, simplesmente porque não conseguia encarar a realidade. E pergunto-me a mim mesma por que sorrio. Porque tinha saudades disto... É isso. Eu ainda me lembro das palavras que me edulcoravam o coração. Desse amor fátuo que toldava a minha vista da realidade. É como se esteja a viver tudo agora. E é engraçado como as memórias parecem presente. E como o passado se materializa com breves sussurros de saudade. E a minha inocência - só hoje consigo ver que era, de facto, inocente - acabava por fazer de mim quem era. Talvez, e tão somente talvez, se não fosse essa inocência não teria vivido tão exasperadamente aqueles mistos de amor leviano com paixão salutante, aquela angústia permanente que julgava ser, sem espaço para dúvidas, amor... É o que disse acima - inocência. Nessa altura ainda não tinha percebido o que era amar, ainda era só uma rapariga a dar as primeiras passadas no universo das paixões ardentes e dos desgostos avassaladores. Talvez seja mesmo nessa altura que a pureza dos nossos corações nos permite viver tudo com a máxima intensidade. Mas a verdade é que venho corroborando que quanto mais pomos de lado a essência do nosso ser, o prelúdio da nossa ingenuidade e a irreverência inerente à idade é que de facto podemos perceber, passados todos estes anos, o que é o amor - e eu amo-te.
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