E depois dizem para "esquecer o passado". Assim, como se fosse fácil e leviano fazê-lo. Como se esquecer o que fomos, o que foram para nós, o que sentimos, o que vivemos, e tudo o mais fosse apagar um pequeno rascunho escrito a lápis de carvão. O meu está escrito a caneta, a caneta de tinta permanente. E questiono-me incansavelmente como é possível que não estejam todos. É verdade que perdoamos ou, pelo menos, alguns perdoam, contudo custa-me a crer que esqueçam. Porque esquecer não é uma escolha, não podemos escolher esquecer uma pessoa, uma coisa ou mesmo um sentimento. Oxalá que pudéssemos manipular a memória, seria tudo substancialmente mais fácil, todavia, para o bem ou para o mal, ela existe. Eu acredito que haja com um propósito - se nos esquecêssemos simplesmente de tudo o que era mau, então voltaríamos a repetir os mesmos erros, a tropeçar nas mesmas pedras, a cair nas mesmas armadilhas. Assim, não. Estamos atentos, mesmo que inconscientemente, para os perigos que nos circundam. Na vida perdoamos o perdoável, colocamos alguém à frente de nós próprios, não só porque queremos que essa pessoa se sinta bem, mas também porque perdoá-la significa dar-nos a nós mesmos uma nova oportunidade. Mas... E o imperdoável? E a mágoa profunda que nos tira a vontade de respirar? Será que a conseguimos perdoar? Será que conseguimos viver todo o santo dia sem pensar em algo que nos tira a vontade de viver? Eu perdoava, se esquecesse. Mas eu também não quero esquecer, até porque não posso. Eu preciso de me lembrar, de sentir aquela dor profunda e aquela felicidade estonteante. Preciso de viver com o bom e o mau. Não me peçam para o apagar, não me peçam para eliminar do meu consciente aquilo que deixou uma marca tão profunda no meu coração.
2 comentários:
“The stupid neither forgive nor forget, the naive forgive and forget, the wise forgive but do not forget.”
Isso é conversa de quem quer ser desculpado. Se bem que agora não tens moral nenhuma LOOL. Mas vou pensar no teu caso***
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