Deitada na cama, recordava. Os lençóis ainda tinham o cheiro activo do perfume que invadiu o quarto na passada noite. O suor tinha-se evaporado e os cobertores estavam agora secos, livres, despidos de presente e recheados de passado. As roupas espalhadas pelo chão constituíam simples vestígios de memória e restos de recordações. A cabeça dela estava à roda, envolta em pensamentos que o traziam para junto de si. Inevitavelmente deixava-se olhar para o vazio podendo, por breves momentos, sentir o rosto acariciado por uma mão firme e terna. A nostalgia não a deixava desprender-se da magia que sentira na noite passada, todavia era impossível e ela sabia-o. Contentava-se com o segundo lugar, com os dias de São Valentim sozinha no sofá da sala com uma garrafa de Vodka na mão. Foi tarde demais, ele já estava noivo. Um amor de adolescência não morre, mas pelos vistos pode ser ultrapassado. Sempre se amaram e ela sentia-o todas as vezes que o seu olhar lhe tocava, mesmo que de soslaio. "Não a posso deixar", dizia ele com sofrimento nos olhos e pesar na alma. Jurou a si mesma que iam parar. A situação estava a tornar-se insustentável, cada vez o vazio se alastrava mais e ela já não sabia partilhar o seu grande amor com uma mulher qualquer. Como é triste saber que o coração que nos pertence está entregue a outra pessoa, na posse de outras mãos, ao dispor de outra entidade...
Suspirava. Corria os dedos pelo corpo, agora frio. Fechava os olhos e interrogava-se sobre o porquê da sua separação há muitos anos atrás. Qual a razão para duas pessoas que se amam se separarem? Serão as diferenças mais fortes? Falarão as adversidades mais alto? "Não, basta destes pensamentos", dizia para si mesma, abanando com a cabeça. Já chega. Não queria continuar a ser a outra e a preencher o vazio que ele sentia porque também a amava. Por outro lado, sabia que todos os dias seriam um tormento sempre que olhasse para o telemóvel e a sua mensagem não chegasse, sempre que se fosse deitar e o outro lado da cama estivesse vazio, sempre que contemplasse que Lua e esta nada lhe pudesse dar.
Levantou-se. Tomou a derradeira decisão de tentar encontrar aquele que a pudesse fazer verdadeiramente feliz. Estava farta de meio-amar, meio-ter, meio-sentir. Precisava de sentir-se novamente completa, desejada e amada.
Chorou enquanto caminhava em direcção à casa de banho, com a certeza de que jamais voltaria a amar alguém como amou aquele homem, mas convicta de que iria descobrir um novo amor, não o amor da sua vida, pois esse já o havia perdido, contudo por vezes as coisas são mesmo assim - o amor da nossa vida e aquele com quem ficamos não são a mesma pessoa.
1 comentário:
Se essas duas pessoas se amam de verdade porquê que não ficam juntas? Porquê que houve sempre algo que as tentou separar e elas continuavam a amar-se e a ultrapassar qualquer que fosse o obstáculo?
Uma vez eles estavam os dois juntos, num sitio sossegado, num sitio perfeito. Infelizmente não estavam bem... consequentemente começaram a discutir. Eles sabiam que não era aquilo que queriam, eles sabiam que o amor que sentem um pelo outro é o mais importante, mas ela pediu-lhe que sai-se. Ele esperou, perguntou-lhe se era mesmo isso que ela queria. Olhou-a nos olhos, ambos os tinham prestes a inundarem-se em lágrimas. Ela disse que aquela era a sua decisão. Ele continuou a olhar para ela, esboçou um sorriso, deu-lhe um beijo na testa, pegou em suas coisas e saiu, para que ela não o visse a chorar. Ele ainda olhou para trás, mas nada, nada vinha em seu socorro, sentia-se como se tivesse uma mochila de um tonelada ás costas, como se o mundo fosse desabar sobre ele. Este esperou, esperou pelo arrependimento da parte da outra pessoa e assim aconteceu. Ambos sabiam que não estavam a viver os momentos mais felizes da sua vida, mas que o seu amor era demasiado valioso para ir parar a um sitio sem nada, ao vazio. Então decidiram deixar as coisas acalmar dando um tempo.
O rapaz teve dificuldade em adormecer, estava com dores de cabeça e não parava de pensar em outra coisa senão nela.. acordou com as mesmas dores e decidiu ficar em casa, faltando ás aulas da manhã. Durante a tarde, quando este esta prestes a iniciar o seu treino recebe uma mensagem que o deixa mal, bastante mal. Ainda pior devido ao motivo que levou a outra pessoa a tomar determinada decisão. Pois o rapaz jurou-lhe que nunca tinha tido nada com outra pessoa.
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