Falar, gritar, urrar. Escalpelizá-lo até não poder mais. Sentir que o amor está realmente perto, uma vez que seja. Não tenho pensado em nada, muito menos falado, penso que me resignei ao comodismo da aceitação, do querer apenas o que tenho, do não lutar por mais. Mas ontem, ao adormecer, coisas distantes pairaram, de novo, no meu pensamento, e eu cogitei várias situações. Quimeras, meras quimeras que para nada mais serviram senão para aconchegar o meu coração frio, gélido e adormecido. A metodologia do amor é deveras assustadora - ama-se, sofre-se, esquece-se. Mas esquecer... Esquecer é uma palavra tão forte. Será que te esqueceste? Será que eu me esqueci? Será que todos nós esquecemos? Ou que nos limitamos a arrumar as memórias que nos ferem num lugar onde não dilacerem o nosso coração? Quando dizemos "eu esqueci-te" não estaremos a tentar dizer "eu arrumei-te num sítio do meu coração onde não me magoas, por isso não fales comigo senão vais libertar uma força da qual eu tenho medo". Seria um discurso mais longo, é certo, e que diria o mesmo. O mesmo não, diria mais. Diria que é impossível esquecer realmente quem foi para nós o nosso mundo, o nosso ideal, o nosso sonho tornado realidade. Por vezes penso nisto, nestas questões do amar e do esquecer. Porque quando posso afirmar a pés juntos que esqueci, recordo-me que, algures numa gaveta fechada a sete chaves, uma parte do meu coração continua a bater, muito subtilmente, por uma memória do passado.
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