Às vezes discutimos com quem mais amamos. Já começo a achar que isto é a lei da vida. Contudo, o facto de discutirmos com essas pessoas não faz com que as amemos menos, aliás, faz exactamente o contrário - apercebemo-nos de que não conseguimos viver sem elas. Há duas pessoas com quem discuto incessantemente. Por tudo e por nada. Por coisas graves e por coisas simples. Acho que nunca fiz um grande alarido, por assim dizer, a estas duas figuras que são, para mim, o espelho de tudo (ou quase tudo) o que eu deveria ser. Irrita-me tanto, mas tanto, mas tanto quando me dizes "irrita-me solenemente que deixes os ténis no quarto, Joana" É que mesmo que queira evitar, a tua irritabilidade gera a minha irritabilidade, e o meu sistema nervoso dispara! Eu sei que isso te chateia, mas compreende: os chinelos estão no quarto, os ténis têm de ir para a sapateira... É uma questão de ser prática! E depois vem a outra pessoa e diz "Pois Joana, a tua mãe já te disse que os ténis não são no quarto". Aqueles dois são como o eco um do outro e isso deixa-me tão feliz... Noto que se completam até nas mais estúpidas coisas, e completam-me também a mim. Porque eu posso ter grandes amigos, melhores amigos, amigos para a vida, e sei que os tenho. Mas amigos como aqueles dois... Sei que jamais em tempo algum vou encontrar; eu sei que a alegria deles quando tiro uma grande nota é sincera, e que sofrem avidamente os meus fracassos. Sei que, um de uma maneira, outro de outra, fazem de tudo para me ver bem, para me ver feliz. Tenho consciência de que tudo o que fazem é só para o meu bem. Até fazem bem demais. À mínima queixa que faça, eles conseguem mover mundos e fundos, e sei que isso é coisa que muitos não ligam, que se limitam a dizer "já tens idade para resolver as tuas coisas, filho". Eu nunca ouvi essa palavra da boca deles, muito pelo contrário, geralmente é mais do género "deixa estar que nós resolvemos". E se eu acho que há muitas coisas más na vida, esta que tenho é a melhor que alguém pode ter. Eu sei que, como vocês dizem, sou demasiado rebelde, que sou muito embirrante e que se as coisas não correm à minha maneira, fico logo amuada e de mau feitio. Mas tu quando acordas também tens muiiiiitas vezes um feitio que não-se-pode. E tu, tu agora andas um birrento e nada nada nada divertido. Mas pronto, se fossem perfeitos também não tinha piada nenhuma. Se há pessoas que amo, a vocês amo ainda mais! E digo-vos, isto de ser a menina dos papás, agrada-me bastante.
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