domingo, 24 de julho de 2011

Uma história de amor


Amor de miúdos, paixão de titãs. Desde a adolescência que eram o casal perfeito. Completavam as frases um do outro com tanta precisão que parecia que os seus corações não só encaixavam como se tinham fundido e tornado num só. Não eram namorados de ocasião, eram namorados a tempo inteiro - até mesmo quando ela teve leucemia e ia morrendo nos braços dele, implorando-lhe para que nunca se esquecesse do seu sorriso. Curou-se, e muitos dizem que foi o amor que os unia que conseguiu matar a força maligna daquela doença. Dizem os entendidos que isso é cientificamente impossível, mas o que é facto é que a menina com apenas dezassete anos saiu da doença com a valentia de uma verdadeira adulta. O cabelo cresceu, a palidez deu lugar a um rosto saudável e bonito e eles continuaram o caminho que parecia não ter futuro.
"Queres casar comigo?" foi a pergunta que ele lhe fez quando fizeram dez anos de namoro, no dia 8 de Setembro. Esse dia foi talvez até mais bonito do que o dia do casamento - ele comprou bilhetes para Paris e fizeram a viagem de sonho dela desde miúda. E foi debaixo do arco do triunfo, ajoelhado perante ela, que ele lhe perguntou "veux-tu m'épouser?". Nesse momento ela mesmo não percebendo o que ele disse olhou para os olhos dele que continham o seu reflexo nítido e limpo, e limitou-se a dizer "sim" com uma lágrima a escorrer pela face.
Há amores assim, que parecem perfeitos e que são realmente perfeitos, até um dia. De facto não havia explicação para o que aconteceu ter acontecido, numa vida tão completa. Tinham uma casa com vista para o mar, dois filhos lindos - a Carolina e o Martim - e uma relação sólida e saudável, praticamente sem discussões ou desentendimentos. Depois de passarem por tanta coisa, boa e menos boa, mas nas quais se mantiveram juntos e as ultrapassaram, nada fazia prever aquele final - a separação.
Foi num dia chuvoso e escuro que ele chegou a casa, pousou a pasta, seguiu até ela e a beijou na testa. Conheciam-se bem demais para ela não dar conta que algo de errado se passava.
- Conta-me lá.
- É o que vou fazer - respondeu com ar severo.
- É grave? - indagou.
- Sim.
- Não me assustes mais, diz-me - pediu-lhe já receosa com o que pudesse ter acontecido.
- Não te vou dizer que não tive culpa, porque tive e fiz algo que me arrependo mais do que tudo na vida - parou e agarrou-lhe a mão pela última vez olhando-a nos olhos.
A rapariga já sabia o que ele lhe ia dizer, apesar de lhe parecer totalmente impossível e sem nexo, ela sabia-o, mais que não seja porque viu o desespero de a perder estampado nos olhos.
- Traíste-me - adiantou-se.
- Não sei como aconteceu, num momento ela entrou e levou-me um café, no outro estava deitada na minha secretária.
- Não quero que me contes, só que faças as malas e sais desta casa.
- Perdoa-me, peço-te - implorou.
- Não, tu conheces-me melhor que ninguém, sabes que não perdoaria uma traição.
- Eu sei... Mas quem ama, perdoa.
- Enganas-te. Quem ama, não trai.
Até os amores aparentemente perfeitos acabam pelos erros mais estúpidos que alguém pode cometer. Erros que comprometem uma relação e o amor de uma vida.

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