Vivia a vida louca - noitadas, bebedeiras, sexo e poder. Subiu na vida à custa da sua capacidade de sedução. Não usava o típico engate, mas um "fazer-se difícil" irresistível. Provocava o seu chefe; deixava-o louco; fazia-o esperar; levava-o ao desespero; provocava-o sempre mais e mais sem lhe dar nada em troca; fazia-o suplicar por um momento de atenção; dizia-se ocupada quando tinha todo o tempo do mundo.
Após uma imploração descomedida, promessas e mais promessas, conseguiu levá-la até ao seu hotel. Com os cabelos ruivos, brilhantes e encaracolados, os olhos verdes encantadores, os lábios rubros tentadores, a pele morena e macia, o corpo escultural e o vestido verde-mar que lhe torneava as curvas acentuadas, descia calmamente as escadas de passadeira vermelha que findavam no salão de jantar. Ele estava quase adormecido com tamanha beleza diante de si. Balbuciava algumas palavras de deleitação e admirava-a insistentemente com os olhos que faziam um esforço para não olhar para o enorme decote que lhe desenhavam o peito redondo.
Com copos de champanhe, ostras, lagosta e caviar, ele deixou-se embebedar naquela atmosfera que transpirava sedução.
- Subimos? - tartemudeou.
Com olhar ríspido e distante declinou a proposta e saiu do salão, deixando um rasto de luxúria atrás de si.
Os dias seguiam-se e ele ia desesperando cada vez mais, apercebendo-se que aquela mulher tinha algo de misterioso à sua volta, mistério esse que actuava como uma droga que o viciava e fazia querer mais. Roubou-lhe um beijo num dos dias em que a chamou ao seu gabinete. A senhora advogada levava umas calças justas pretas de sarja e uma blusa semi-aberta que a delineava. Os saltos altos começavam a ouvir-se e ele sentia-a mais perto. Assim que pode, agarrou-se a ela num beijo arrebatador, cheio de gula e desejo que foi totalmente correspondido. Depois de terminado, ela olhou-o com olhar provocante e apenas disse:
- Precisa de mais alguma coisa?
Não tendo coragem de responder limitou-se a abanar a cabeça, como se não acreditasse que aquela mulher o tivesse deixado num estado tão avassalador.
Nesse mesmo dia à noite, quando regressava para casa da mulher e dos filhos, o lar doce lar onde encontrava o conforto e o amor, notou que se sentia estranhamente vazio - não dormia com a mulher com quem casara aos tenros 25 anos há mais de um mês e havia-se esquecido totalmente do quão importantes eram os 3 filhos na sua vida. Reflectiu. Parou. Pensou no o circundava, e notou que todas as noites perdidas a suspirar por uma rameirazinha que subiu na vida à custa do seu poder de sedução, que enfeitiçava os homens e ele não seria o primeiro nem o último a sentir tal encantamento e vontade de posse a nada o levou.
Parece que muitas vezes precisamos da adrenalina de um momento, mas nada substitui o amor verdadeiro e inocente, despojado de sofreguidão e assente em solidez e conforto.
De que vale uma vida cheia de aventura se acabamos por cair no abismo da solidão? De que vale noites de delírio se acabamos por querer um dia em que possamos dormir profundamente? De que vale a loucura se acabamos por querer assentar? De que vale o sexo em vez de amor?
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