Nunca sabemos quando começou, nem como acabou, ou mesmo se alguma vez vai acabar. No início sentimos uma sensação nova e extraordinariamente agradável. Um modo de ver as coisas diferente. Novas cores em cada canto. Novas emoções são despoletadas por aquilo que ainda estamos a explorar. Damos tudo o que temos e ainda mais um pouco. Entregamo-nos de corpo e alma e ainda fazemos juras e promessas de amor, e na verdade acreditamos naquilo que prometemos. Aliás, acreditamos piamente que será realmente para sempre e que sentiremos todos os dias, a cada dia, o prazer de estar na companhia do nosso amante. Chegamos a chorar de felicidade. Tudo o que damos nos parece pouco face ao que recebemos. Atingimos o ponto de nos convencer a nós próprios que o amor é um mar de rosas.
Acaba.
Por razões que muitas vezes desconhecemos, aquilo que tomávamos por garantido desaparece. As borboletas no estômago transformam-se em agonia. Os calafrios em lágrimas nocturnas. Os sonhos em pesadelos. Os beijos em amargura. A paixão em desalento. E o amor em saudade.
Ficamos petrificados face à força do sentimento que nos deu o melhor e o pior. Aquilo por que passámos não passa agora de ténues memórias que vão sendo apagadas com o tempo e adormecidas com a distância. Os sentimentos tentam escapulir-se do nosso coração a todo o custo. Fazemos de tudo para que tudo não passe de uma fase e não se torne no nosso dia-a-dia. Ao fim de um tempo, aprendemos a viver com a falta que o amor nos faz; aprendemos inclusivamente a lidar com as noites mal dormidas, os momentos de saudade e a vontade de perseguir aquilo que sentimos. A nossa vida molda-se ao nosso estado e, a pouco e pouco, construímos uma nova identidade, certamente diferente daquela que entregámos a que a desperdiçou. Nunca mais voltamos a ser os mesmos. O corpo é o mesmo e a alma também, porém algo muda em nós próprios que não conseguimos explicar.
Passado algum tempo, não muito não pouco, mas o suficiente, algo novo surgirá. Eu acredito que este ciclo vicioso acabará. Aliás, acredito que estes desgostos apenas servem para nos preparar para o único, o sublime e o inquebrável verdadeiro amor.
2 comentários:
"Aquilo por que passámos não passa agora de ténues memórias que vão sendo apagadas com o tempo e adormecidas com a distância. Os sentimentos tentam escapulir-se do nosso coração a todo o custo"
quando se ama as memórias nao desaparecem nem com tempo nem com distancia, ficam guardadas e nunca mais vao ser esquecidas, mesmo qe seja isso que queiramos. e nao sao os sentimentos que se tentam escapuir do nosso coraçao, nos e que os tentamos expulsar para nao sofrermos mais.
está muito bonito, Joana!
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