Tinha aquele ar inabalável e ríspido, mas dentro de si, o seu coração palpitava como todos os outros. Apesar de parecer impassível, a verdade é que apenas tinha menos à vontade para mostrar o que sentia. Oferecia palavras genuínas, sem grande significado, mas limpas, serenas, com classe, com um ténue sabor a amor. Seria isso? Nunca lho disse cara a cara, olhos nos olhos, e talvez por isso ela duvidasse tanto dos seus sentimentos. Talvez por isso, ela vivesse num impasse que a certa altura se tornou insustentável. As dúvidas iam-se dissipando e a realidade ia-se sobrepondo à vontade. Os desejos pareciam não passar disso, de leves desejos... e a dor, essa começava a ganhar uma força demasiado violenta para ser sentida. Colocou de parte. Pensou que não era uma opção viável, que tudo não passavam de ilusões, de simples quimeras que suportaram durante tanto tempo a vontade de continuar.
Modesta e humilde, como só ela, disse-lhe que não esperava aquela revelação da sua parte e desculpou-se por ter sido tão cega. Não quis entrar em discussões, proporcionou-lhe um sorriso e um toque na mão. Esse mesmo toque fê-la acordar. Como se o que tomou como opção excluída voltasse à corrida, à corrida não, à certeza. Pois não tardou que os seus olhos sinceros tocassem os dela com um brilho reluzente. Ele fechou-os lentamente. Ela sabia o que ele ia fazer. Não se chegou para trás. Não que a sua mente quisesse aquele beijo, mas porque o seu corpo a prendeu ao chão. Os lábios fundiram-se e a paixão enalteceu-se. Depois disto? Ora depois disto, como todas as lindas histórias de amor, acabou.
Sem comentários:
Enviar um comentário