domingo, 2 de janeiro de 2011

Sentir sem saber o que sentir

Sento-me e espero. Espero pelo que vem e pelo que não vem. Vejo o tempo a passar mesmo à minha frente. Permaneço impávida e serena. Oiço o ruído da tua voz a entoar na minha cabeça, apenas a voz. Não percebo o que dizes e não quero decifrar, atento somente no som que se vai repercutindo. Uma folha cai e acaricia-me a mão. Vejo-me forçada a pegar nela. É verde, verde escura. Observo-a. E deixo-a finalmente voar. Como tudo voa, não é? Como às vezes temos tudo e basta um sopro para ficarmos sem nada. As memórias e recordações são a única consolação. E que consolação... Magoam e ferem mais do que consolam. Mais valia não as ter! Oxalá conseguíssemos não lembrar o que queremos esquecer. Não consigo fazê-lo, não posso esquecer. Continuo atenta a todo o ambiente que me envolve. O vento solta-me os cabelos e eu devio o olhar. Olho para o vazio, vazio como está o meu corpo. Alma despida e corpo nú. A brisa empurra-me para Norte e posso dizer que nada temo. Parto em busca do que já conheci outrora, e do que outrora perdi. E sorrio levemente para enganar aqueles que suspeitam a minha tranquilidade. Caminho sobre as folhas secas e oiço o estalar das mesmas debaixo dos meus pés descalços. É bom sentir tudo e comitantemente nada sentir.

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