domingo, 27 de novembro de 2011

O silêncio do amor


O silêncio é das falas mais fortes que existem. Uma forma de expressão tão intensa que nos vai destruindo, a pouco e pouco, tão subtilmente que chega a ser quase imperceptível aos olhos, mas inequívoca ao coração. Diz-nos mais do que não diz, diz-nos simplesmente, que caso falasse, seria ainda pior. Mas nós preferíamos o pior. Preferíamos a mágoa das palavras ao desespero do silêncio. Ao menos sabíamos com o que podíamos contar, não é? Sabíamos que estávamos mal, pessimamente mal, irreparavelmente mal. Com o silêncio, não. Com o silêncio fica a dúvida, ténue e transparante, de como seria se soltássemos uma palavra. Uma mera palavra. Não temos nada a dizer, contudo fica sempre tanta coisa por partilhar. Mas o silêncio fala mais alto, e toma uma proporção tão elevada no nosso quotidiano que já nem sabemos bem se falamos ou não falamos, ou se falamos e não sabemos que falamos, porque assim que se cruza um olhar, um único olhar, mesmo que de soslaio, são tantas as coisas ditas, verbalizadas, gritadas e exacerbadas, que nos deixam meios adormecidos no meio de tanta falta de comunicação. Não é o silêncio que faz esquecer, ele apenas não deixa doer. Pelo menos não tanto. Afasta do pensamento aquilo que menos desejamos lembrar, não obstante de trazer, em certas horas e momentos inoportunos, com ainda mais veemência todos os desamores e desventuras. Com o passar do tempo vamos aprendendo a viver com a ausência, com a falta e a carência, e é com a inocência de crianças desprotegidas que continuamos a caminhar. Passos pequenos e fracos, passos que praticamente não deixam marca continuam a ser dados, continuam a suceder-se, mas ao acaso. Passos escondidos por entre sombras de melancolia, passos que ansiamos apagar, passos que nos permitem entreter a vida, e não vivê-la. Ao fim do dia, deitados sobre as memórias e recordações, o silêncio adensa-se. O silêncio começa a matar-nos e a ferir-nos, o silêncio de quem mais amamos parece ter uma força tão austera que nos faz chorar. E choramos. E limpamos as lágrimas. E recompomo-nos, com a certeza de que, um dia, o nosso amor vai gritar, gritar tão alto que nenhum silêncio o poderá calar.

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