Descobri que consigo amar-te sem me lembrar que me amo a mim. Passo a explicar. Reconheço que sou um pouco egocêntrica, egoísta e um tanto ou quanto exigente com os que me rodeiam. Também sou um coração de manteiga, não suporto ver alguém mal, tento sempre ajudar, faço os possíveis e os impossíveis para não magoar ninguém quando sei que tenho de o fazer e, sobretudo, protejo a um nível universal os amores da minha vida. Mas hoje foi diferente, reconheci que te consegui amar mais a ti que a mim própria. Foi uma sensação estranha, porque nunca tinha acontecido, mas senti tal e qual assim, com esta simplicidade.
O que todos me dizem, e vêm a dizer desde sempre, hoje passou-me ao lado. Na verdade, não te consigo encarar olhos nos olhos, assim frontalmente como deveria fazer, mas consigo amar-te depois de tudo. E este tudo é tanta coisa... Tantas memórias, tantas recordações, tantos desabafos, tantos beijinhos e abraços, tantas festas e meiguices, tantos segredos partilhados, tantas horas de conversas, tantos sorrisos e olhares... e tantos palavrões, e tantos gozos, e tantas humilhações e decepções, e tantas ofensas e tantas, tantas palavras em vão! Tanto de tudo, do bom e do mau, tanto daquilo que nos fortalece e nos mata, e alimenta o amor, assim como o destrói. Tanto de nós. E depois disto tudo, enfim eu fico aqui a pensar... e fico pelo pensamento que não vou partilhar. Embora guarde mágoa, guardo saudade. E que saudade. It's too late to apologize. Mas mesmo assim fica aqui o testemunho. Não vou mudar nada. Não posso mudar nada. Já tentei mudar o que tinha a mudar. E assim fico aqui, a levitar em pensamentos que trazem a tua mão esticada para mim, como sempre fizeste, por mais estúpida e previsível que fosse a minha queda.
Um velho hoje contou-me um segredo "só odeia furiosamente alguém, quem foi capaz de amar essa pessoa".
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