segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Querido * #3

Querido *,

Desculpa, desculpa a minha ausência. Sei que não sentiste a minha falta, mas justifico-me na mesma. Tenho escrito uns textozinhos bonitos, mas demasiado profundos para te mostrar... Quando voltares ao conforto da nossa casa eu mostro-tos a todos! Conhecendo-te como conheço, vais adorar. Chamar-me-ás tonta e dir-me-ás que só penso no que não devo. Depois dás-me um beijinho e ficamos os dois a ver o nosso filme.
Tenho saudades que te sentes à lareira comigo e que me pegues na mão e ma beijes de vez em quando, sabes como adoro que o faças. E tenho especialmente saudades das nossas conversas, telepáticas, virtuais ou cara-a-cara. Agora não temos nenhuma. Não falamos de nada! Quando saíres desse inferno, quando voltares para o calor do meu corpo, voltaremos a ficar juntos e nunca mais te deixarei ir embora. Até lá, fico a rezar para que nada te aconteça, nesse mudo errante onde vives. À noite, antes de adormecer, faço as minhas rezas, os meus pedidos de socorro, rezo por ti também. Depois meto a cabeça na almofada e só consigo lacrimejar baixinho, com medo que as paredes me oiçam. Ninguém pode saber destas coisas, era uma vergonha! Eu sei, eu sei, se passarmos à atribuição de culpas, vais dizer que eu é que te mandei embora, mas não foi bem assim. Eu não estava em mim, tu sabes que não! Estiveste tanto tempo a tentar convencer-me do meu erro e eu não percebi, e quando finalmente consegui ver o que estava à minha frente... it was too late. Sim, eu não me começo a lamentar, vá, não estejas a pensar isso! Eu sei que não gostas que diga que a culpa é minha, mas é, vamos admitir.
Sabes bem que se olhares para o céu me verás algures, entre a penumbra. Onde mais ninguém me vê. Tu sabes que estou lá, tanto que sabes que todas as noites eu te vejo acenar do outro lado do mundo.

carta de uma mulher com saudade

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