quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Querido * #5

Querido *,

sinto que tudo o que te queria dizer não caberia em cem páginas. Também admito que sintetizar não é o meu forte, acho sempre que todos os pormenores são precisos e que aquando omitidos, ficam sentimentos por demonstrar. Tive um dia triste, já há muito tempo que os meus dias são tristes. A Natureza presenteou-me com notícias tuas, soube que afinal de contas não sou uma peça assim tão imprescindível e que até tens andado bem. Por um lado fico feliz, acho que este meu amor é muito altruísta, por outro fico perturbada, porque eu continuo a não conseguir adormecer sem me vir à cabeça o teu fácies. Enfim, eu aceito o que o destino me dá... Não quero tirar ilações precipitadas, se calhar acreditas simplesmente que o que é nosso às nossas mãos vem parar, tal como eu, se bem que este comodismo às vezes não nos traz as coisas com a facilidade com que seriam trazidas com algum esforço e empenho.
Sei que estás sempre bem, tu és forte, determinado e inteligente, arranjas sempre solução para todas as adversidades. Eu também vou andando, sempre com um sorrisinho, tu conheces-me... Mas o meu sorriso só esconde a dor que sinto pela tua invariável perda. Sei que não morreste, que estás algures perdido neste mundo, mas estás longe de mim, e essa já é perda suficientemente grande.
Hoje olhei para uma fotografia nossa e reparei como o tempo passou, de como mudámos desde a nossa ingénua adolescência. Dos traços modificados, das brigas e das lágrimas, de quando choraste à minha frente... a única vez que te vi chorar à minha frente. Acredita que me marcou. Por trás dessa tua aparência impassível, há um ser maravilhoso escondido, que só se deixa ver a quem realmente lhe rouba o coração, como eu um dia fiz.
Ontem a Carolina dormiu comigo, acordou sobressaltada a meio da noite. Devias vir vê-la, ela está impaciente, procura incessantemente por ti no meio dos lençóis, quer encontrar a tua mão, aquela mesma mão com que lhe fazias uma festa no rosto e lhe segredavas como ela era bonita. Ela tem mesmo saudades tuas. Se me ouves, me sentes e ainda tens uma réstia de amor em ti, vem vê-la. Acho que se a vires já é consolo suficiente para mim, pois nela está o maior pedaço de nós. A nossa união. O que não mais poderá ser quebrado. Vem vê-la. Vem ver-nos. Vem para nós.

carta de uma mulher com saudade